Autor: Peterson Azevedo
O Professor Milton Santos, intelectual e ganhador do prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, considerado o Nobel da Ciência Geográfica, propõe que a Geografia Crítica possui, como um dos principais objetos de estudo, interpretar criticamente a construção do Espaço Geográfico antropizado e suas relações com o ambiente natural, por meio da política e da tecnologia. Milton nos alerta, ainda, para a importância da comunicação, como um dos principais agentes de comando/controle da sociedade. Freire (1987) argumenta que os invasores modelam; os invadidos são modelados. Os invasores optam; os invadidos seguem sua opção. Milton sinaliza, também, acerca do domínio de grandes nações poderosas, por intermédio do que ele chamou de “globalização perversa” e seus braços políticos, a qual ele denominou de revolução técnico-científica-informacional. Neste texto, vamos dar ênfase aos processos informacionais, em especial aos processos comunicacionais digitais informáticos. O que William Gibson (1984) chamou de ciberespaço e Lévy ampliou seu conceito para as relações de produção do conhecimento e suas interações colaborativas na era digital da comunicação e informação.
Para Lévy (1999, p. 92), o ciberespaço é um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Além de conectar pessoas e saberes, em um processo altamente veloz e colaborativo. Será que estamos utilizando o ciberespaço em todos os seus benefícios tecnológicos e de produção científica colaborativa e ética? Será que já saímos da caverna Platônica? O ciberespaço se tornou o repositório digital para a pós-verdade?No final do ano de 2019 e início de 2020, o mundo foi acometido por um surto pandêmico de SAR-S COV – 2 ou Coronavírus (2019-nCoV), causando uma doença chamada de COVID-19, com alto poder de transmissibilidade e que ataca severamente o sistema imunológico, causando letalidade e quando não, deixando de herança, efeitos colaterais graves ao organismo humano. O surto foi notificado, primeiramente, em Wuhan, na China, em 31 de dezembro de 2019. Segundo o mapa mundial, desenvolvido pela Universidade Johns Hopkins, o Mundo em 01 de Março de 2021, quando foi escrito este texto, apresentava 114.099.454 casos da doença, sendo 2.531.489 mortos em 192 países. O Brasil, nesta data, já atingiu a marca recorde de 1.433 mortes em 24h, chegando a 254.942 mortes desde o início da pandemia, sendo o segundo país do mundo em números de mortes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos da América. O mundo, em 2021, já está vivendo o que se chamou, de segunda onda de contágio e letalidade do coronavírus. Até o momento, já foram descoberta três importantes mutações do vírus, a cepa do Reino Unido, a cepa Brasileira (oriunda de Manaus) e a cepa Sul-africana, que podem apresentar uma transmissibilidade, popularmente, chamada de transmissão de “rebanho” mais rápida. A Bahia, neste período, apresentou um aumento de 60% dos casos e já colapsou a sua rede de saúde, tanto em leitos públicos, como em leitos privados. O Estado, nesta data, apresentou 664.037 casos confirmados, com o total de 11.819 mortos.
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Apresentando estes dados estarrecedores e preocupantes à existência da vida humana no Planeta, a Geografia é uma das mais importantes ciências que pode auxiliar a entender melhor esses números, especificamente a Geopolítica e suas relações diplomáticas e de intercâmbio global. As Nações Unidas realizam um trabalho muito difícil, ao apresentar aos países, o perigo e as consequências sociais, econômicas e psicológicas desta pandemia, além de ser uma instituição integradora e mediadora de conflitos no pós-guerra. Nunca na ciência, os pesquisadores desenvolveram uma vacina em tempo recorde, mostrando-se eficiente e eficaz no combate ao vírus. Mas o que se vê, em determinados países do mundo, é o descumprimento dessas sugestões feitas pela ONU, por motivos ideológicos, conservacionistas e políticos. O termo Geopolítica foi criado pelo cientista político sueco Rudolf Kjellén no início do século XX, ele baseou-se na obra do geógrafo alemão Friedrich Ratzel “Politische Geographie” (Geografia Política), de 1897. Para Ratzel, a geopolítica resumir-se-ia em superioridade de poder de um Estado sobre o outro, ou seja, serviria aos propósitos de guerra. Entretanto, foi o grande humanista, geógrafo e possibilista, o francês Paul Vidal de La Blache (1845-1918), que afirmou que a geopolítica é bilateral e tem como função geográfica possibilitar a integração das nações, por meio do diálogo. Assim, os Estados mais ricos e poderosos devem auxiliar a troca de tecnologias entre os países em desenvolvimento, para que haja o pleno desenvolvimento dos continentes e suas nações, deve prevalecer o diálogo, a ajuda mútua e a paz. Ou seja, a geopolítica é a ciência das relações internacionais, que tem como objeto de estudo, o pleno desenvolvimento do mundo e a manutenção da paz.
O atual governo brasileiro realiza uma gestão desastrosa, ineficiente e ineficaz e, vem fracassando nas relações geopolíticas, principalmente com países chave, para a economia do país, como é o caso da China e da Índia. Este atual governo vem, ainda, fracassando na gestão da saúde pública, no combate ao vírus, além de sucatear setores importantes do desenvolvimento do país, como: economia, saúde, educação, emprego e meio ambiente. O Brasil é governado por uma ideologia extremista, conservadora, discriminatória e negacionista. E é este tema – o negacionismo e suas ferramentas comunicacionais (conhecidas popularmente como fake news), que pretendo abordar neste texto. Segundo a etimologia da palavra negacionismo: é a ideologia de quem nega um fato comprovado e documentado ou analisa esse fato partindo de argumentos ou opiniões não fundamentadas em verdades históricas e científicas. A sociedade comunicacional vive o mundo apocalíptico da informação, a religião tornou-se, simbolicamente, o condutor cientificista da sociedade ocidental e a condutora de ideologias extremistas e conservadoras. Acreditam que as transformações antrópicas, como aquecimento global, epidemias, pandemias, fome e desigualdades são frutos divinos e não de interesses capitalistas e de manutenção do poder da humanidade. Com isso, surgem “gurus” do negacionismo científico, os quais negam que esses fatores antrópicos sejam frutos de um desequilíbrio entre a devastadora ganância economicista e os recursos naturais. Para isso, utilizam-se da comunicação digital e da pós-verdade como balizadores de suas pseudoteorias, doutrinando, assim, populações mais vulneráveis no sistema global, em especial os países mais pobres, que possuem sérias deficiências intelectuais, de formação e acesso à informação e fatos concretos e comprovadamente checados. Isso não quer dizer que as instituições públicas e privadas de comunicação são idôneas e estão imunes às fakes news.
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Por isso, prevalece a importância da checagem dos fatos, em mais de uma fonte, e, principalmente, partindo de fontes reconhecidamente oficiais e de responsabilidades jornalísticas/informáticas/comunicacionais. Podemos identificar as estratégias da propagação das fakes news, em fases distintas: a primeira fase constitui-se na negação da verdade e na minimização do fato (é só uma gripezinha); Na segunda fase, é onde se tenta convencer a população de que os fatos são estratégias para propagar o pânico e o medo, com objetivos ideológicos; A terceira e mais perigosa fase é a produção falsa de ideias, notícias, cientificismo sem bases teóricas, e a utilização do ciberespaço para propagar mais aceleradamente estas estratégias de gadificação da população. É, nesta fase, que as fakes news ganham os códigos binários e navegam rapidamente pelos computadores e smartphones. Geralmente, esses textos são palatáveis, simples e rasos, para facilitar o entendimento dessa população que, como relatei anteriormente, tem grandes fragilidades intelectuais, formais e de interpretação mais profundas e sistêmicas, são facilmente conduzidas como manadas. É, nesse momento, que os “gurus” do negacionismo começam a ditar as regras e a comandar os processos de comunicação e informação. Tornando-se elos perigosos à ciência e à luta contra a pandemia, as questões sociais e ambientais no mundo. Aí, sim, podendo, efetivamente, estabelecer o ódio, o caos e a desordem, ou seja, o verdadeiro apocalipse informacional.
Cheque, busque, lute pela ciência e pela verdade.
#Vacina sim! – https://www.youtube.com/watch?v=zWBnuCfUKns
FAKE OU FATO .https://g1.globo.com/fato-ou-fake/coronavirus/
Peterson Azevedo
Professor da Rede Estadual e da Rede Anísio Teixeira/IAT.
Referências
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Castells, M. A sociedade em rede. (R. V. Majer, Trad.). São Paulo: Paz e Terra. 2006.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17ª. Ed. Rio de Janeiro, Brasil: Paz e Terra, 1987
HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005 (2001).
Lévy, P. Cibercultura. (C. I. da Costa, Trad.). São Paulo: Ed. 34. 1999.
Imagem 2 – Foto Peterson Azevedo
MORAES< Menezes Joalva. Ações Governamentais na luta contra COVID 19 – Um estudo de caso nas instâncias Municipais e Estaduais em Salvador/Bahia/Brasil. TESE (Doutorado) (Universidade Aberta. Portugal. 2021
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008 (15ª edição).
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Ciberespaço: uma nova configuração do ser no mundo. . Acesso em: 24 de fev. de 2021.
VERAS, Thor João de Sousa Veras. Negacionismo viral e política exterminista: notas sobre o caso brasileiro da Covid-19. 2020. Disponível em: http://pat.educacao.ba.gov.br/recursos-educacionais/conteudo/exibir/12761. Acesso em: 25 de fev. de 2021.
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Etimologia da palavra negacionismo. Disponível em: https://www.dicio.com.br/negacionista/#:~:text=Etimologia%20. Acesso em: 24 de fev. de 2021
Fato ou Fake sobre o Coronavírus. Disponível em: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/coronavirus/. Acesso em: 24 de fev. de 2021.
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