quarta-feira, 3 de março de 2021

Bloco do Prazer

 

Este carnaval silencioso, melancólico, contaminado, triste, sem Moraes, sem Ademar e nossa furta-cor, sem os trios, sem as fuleragens, sem as muquiranas, sem os blocos afro e de índios, sem a mudança do Garcia (voz da cidade toda!), nos apresenta algumas necessárias reflexões…. Trago, neste pequeno texto e provocação, apenas uma questão (sem a menor originalidade, mas que fingimos (alguns) não ouvir/sentir, há séculos!): o que estamos fazendo com as nossas vidas? Em outras palavras, quanto desencantamento cabe numa existência, e até quando suportaremos tanta violência? Para tanto, peço ajuda aos indispensáveis artistas da nossa música popular, Moraes Moreira e Fausto Nilo, que já registravam na canção frevo-carnavalesca Bloco do Prazer, lá pela década de 1980, que “(…) a vida tá pouca e eu quero muito mais…”.

Sim, precisamos de paixão e de utopia, de carne e de carnaval, mas, senhores poderosos deste lugar, também queremos e precisamos de vacina, de respeito a todxs, de um projeto de nação acima das corporações político-partidárias, de emancipação, de soberania no jogo geopolítico mundial, de um estado laico, de menos concentração de renda e oportunidades, de equidade antes do discurso de meritocracia… Ainda que presente e cada vez mais real, vamos combinar que “tá chatona” esta visão distorcida e míope de convivência utilitária, do capital hegemônico, especulativo, explorador e desestabilizador de países e democracias. No português das quebradas, é preciso pegar a visão de que é tiro no pé, deselegante e fora de moda já em países nórdicos e no Canadá também, por que não dizer… Pega visão de uma vez, “pra libertar seu coração”…!

A antiguidade destes temas aqui expostos (exploração, desigualdade e desencantamento dos sujeitos) é um sinal explícito de que algo não vai bem há muitos carnavais… Mas o que fazer? Fugir para a Chapada Diamantina ajuda, mas não vai resolver… Postagens em redes e armadilhas sociais ajudam, mas não são o suficiente… Pergunte a você mesmo o que “(…) da vida arrasa e contamina o gás que embala o balancê”? Aliás, qual é o seu balancê, bebê? Ou só vai de BBB? Vá ali e volte já, tudo bem… Vamos continuar juntos, porque esta bagaça é nossa e precisa melhorar! Vamos, “feito loucos”, porque fomos de razão até agora, e está tudo muito estranho, não é verdade?!

Então, vamos “(…) meu amor, feito louca, que a vida tá pouca…” e… meus dois amigos psicólogos sumiram, de tanto trabalho… Amanhã, não aparecerão porque sentiram o baque virado da contemporaneidade excludente… que triste… Voltem! A marcha dos desumildes não está lenta, dista de equilíbrio, e a gente quer e merece muito mais, também, se liguem! A dor deixou de arrebentar e passou a estraçalhar, então, fique peixe, se plante, cuide de sua rua, bairro, canteiro, quintal, coração… Faça isto com alma, e vamos reduzir, consideravelmente, a quantidade de farmácias nas esquinas e calçadas sem árvores…  

  Qual é o balancê? O balancê é o da leveza, da altivez e da integridade. Da certeza que precisamos ecoar e reverberar mais as insatisfações e, também de atitudes diárias, incessantes, que prezam e evocam um futuro/presente melhor, de cores vivas, e alto, mas muito alto astral, porque eles passarão e veremos, de mãos dadas, que vale a pena sonhar e alimentar utopias, mas sempre com on no modo atitude. Atitude, aliás, também parece ser a questão. Como num looping, evitando esquecimentos, eis que voltamos às provocações iniciais: o que estamos fazendo com as nossas vidas, e até quando suportaremos tanta violência? Vamos passar para a próxima postagem mesmo, sem, contudo, termos virado a página de nossa trágica história?  

Este carnaval não deu, e foi melhor assim, sabemos. Então, se chegue, e cole na corda do já anunciado Bloco do Prazer, que também é da reivindicação de uma melhor condição humana para todxs, independente de qualquer categoria, binômio, logradouro, mistério, ministério, continente, bob de cabelo etc. Mas já nos considero na concentração de outro mais importante, sabe por quê? Por que esperança é a “fina flor do meu jardim”!

Abração,








Armando Castro é Professor da área de Música e Cultura do CECULT/UFRB

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terça-feira, 2 de março de 2021

Geografia, informação e negacionismo em tempos de Pandemia

 

Autor: Peterson Azevedo
Publicado em Plataforma Anísio Teixeira: http://pat.educacao.ba.gov.br/blog/conteudo/exibir/1947987
O Professor Milton Santos, intelectual e ganhador do prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, considerado o Nobel da Ciência Geográfica, propõe que a Geografia Crítica possui, como um dos principais objetos de estudo, interpretar criticamente a construção do Espaço Geográfico antropizado e suas relações com o ambiente natural, por meio da política e da tecnologia. Milton nos alerta, ainda, para a importância da comunicação, como um dos principais agentes de comando/controle da sociedade. Freire (1987) argumenta que os invasores modelam; os invadidos são modelados. Os invasores optam; os invadidos seguem sua opção. Milton sinaliza, também, acerca do domínio de grandes nações poderosas, por intermédio do que ele chamou de “globalização perversa” e seus braços políticos, a qual ele denominou de revolução técnico-científica-informacional. Neste texto, vamos dar ênfase aos processos informacionais, em especial aos processos comunicacionais digitais informáticos. O que William Gibson (1984) chamou de ciberespaço e Lévy ampliou seu conceito para as relações de produção do conhecimento e suas interações colaborativas na era digital da comunicação e informação. 
Para Lévy (1999, p. 92), o ciberespaço é um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Além de conectar pessoas e saberes, em um processo altamente veloz e colaborativo. Será que estamos utilizando o ciberespaço em todos os seus benefícios tecnológicos e de produção científica colaborativa e ética? Será que já saímos da caverna Platônica? O ciberespaço se tornou o repositório digital para a pós-verdade?No final do ano de 2019 e início de 2020, o mundo foi acometido por um surto pandêmico de SAR-S COV – 2 ou Coronavírus (2019-nCoV), causando uma doença chamada de COVID-19, com alto poder de transmissibilidade e que ataca severamente o sistema imunológico, causando letalidade e quando não, deixando de herança, efeitos colaterais graves ao organismo humano. O surto foi notificado, primeiramente, em Wuhan, na China, em 31 de dezembro de 2019. Segundo o mapa mundial, desenvolvido pela Universidade Johns Hopkins, o Mundo em 01 de Março de 2021, quando foi escrito este texto, apresentava 114.099.454 casos da doença, sendo 2.531.489 mortos em 192 países. O Brasil, nesta data, já atingiu a marca recorde de 1.433 mortes em 24h, chegando a 254.942 mortes desde o início da pandemia, sendo o segundo país do mundo em números de mortes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos da América. O mundo, em 2021, já está vivendo o que se chamou, de segunda onda de contágio e letalidade do coronavírus. Até o momento, já foram descoberta três importantes mutações do vírus, a cepa do Reino Unido, a cepa Brasileira (oriunda de Manaus) e a cepa Sul-africana, que podem apresentar uma transmissibilidade, popularmente, chamada de transmissão de “rebanho” mais rápida. A Bahia, neste período, apresentou um aumento de 60% dos casos e já colapsou a sua rede de saúde, tanto em leitos públicos, como em leitos privados. O Estado, nesta data, apresentou 664.037 casos confirmados, com o total de 11.819 mortos. 
Imagem 1 - Foto: Peterson Azevedo

Apresentando estes dados estarrecedores e preocupantes à existência da vida humana no Planeta, a Geografia é uma das mais importantes ciências que pode auxiliar a entender melhor esses números, especificamente a Geopolítica e suas relações diplomáticas e de intercâmbio global. As Nações Unidas realizam um trabalho muito difícil, ao apresentar aos países, o perigo e as consequências sociais, econômicas e psicológicas desta pandemia, além de ser uma instituição integradora e mediadora de conflitos no pós-guerra. Nunca na ciência, os pesquisadores desenvolveram uma vacina em tempo recorde, mostrando-se eficiente e eficaz no combate ao vírus. Mas o que se vê, em determinados países do mundo, é o descumprimento dessas sugestões feitas pela ONU, por motivos ideológicos, conservacionistas e políticos. O termo Geopolítica foi criado pelo cientista político sueco Rudolf Kjellén no início do século XX, ele baseou-se na obra do geógrafo alemão Friedrich Ratzel “Politische Geographie” (Geografia Política), de 1897. Para Ratzel, a geopolítica resumir-se-ia em superioridade de poder de um Estado sobre o outro, ou seja, serviria aos propósitos de guerra. Entretanto, foi o grande humanista, geógrafo e possibilista, o francês Paul Vidal de La Blache (1845-1918), que afirmou que a geopolítica é bilateral e tem como função geográfica possibilitar a integração das nações, por meio do diálogo. Assim, os Estados mais ricos e poderosos devem auxiliar a troca de tecnologias entre os países em desenvolvimento, para que haja o pleno desenvolvimento dos continentes e suas nações, deve prevalecer o diálogo, a ajuda mútua e a paz. Ou seja, a geopolítica é a ciência das relações internacionais, que tem como objeto de estudo, o pleno desenvolvimento do mundo e a manutenção da paz. 
O atual governo brasileiro realiza uma gestão desastrosa, ineficiente e ineficaz e, vem fracassando nas relações geopolíticas, principalmente com países chave, para a economia do país, como é o caso da China e da Índia. Este atual governo vem, ainda, fracassando na gestão da saúde pública, no combate ao vírus, além de sucatear setores importantes do desenvolvimento do país, como: economia, saúde, educação, emprego e meio ambiente. O Brasil é governado por uma ideologia extremista, conservadora, discriminatória e negacionista. E é este tema – o negacionismo e suas ferramentas comunicacionais (conhecidas popularmente como fake news), que pretendo abordar neste texto. Segundo a etimologia da palavra negacionismo: é a ideologia de quem nega um fato comprovado e documentado ou analisa esse fato partindo de argumentos ou opiniões não fundamentadas em verdades históricas e científicas. A sociedade comunicacional vive o mundo apocalíptico da informação, a religião tornou-se, simbolicamente, o condutor cientificista da sociedade ocidental e a condutora de ideologias extremistas e conservadoras. Acreditam que as transformações antrópicas, como aquecimento global, epidemias, pandemias, fome e desigualdades são frutos divinos e não de interesses capitalistas e de manutenção do poder da humanidade. Com isso, surgem “gurus” do negacionismo científico, os quais negam que esses fatores antrópicos sejam frutos de um desequilíbrio entre a devastadora ganância economicista e os recursos naturais. Para isso, utilizam-se da comunicação digital e da pós-verdade como balizadores de suas pseudoteorias, doutrinando, assim, populações mais vulneráveis no sistema global, em especial os países mais pobres, que possuem sérias deficiências intelectuais, de formação e acesso à informação e fatos concretos e comprovadamente checados. Isso não quer dizer que as instituições públicas e privadas de comunicação são idôneas e estão imunes às fakes news.
Imagem 2 - Foto: Peterson Azevedo


Por isso, prevalece a importância da checagem dos fatos, em mais de uma fonte, e, principalmente, partindo de fontes reconhecidamente oficiais e de responsabilidades jornalísticas/informáticas/comunicacionais. Podemos identificar as estratégias da propagação das fakes news, em fases distintas: a primeira fase constitui-se na negação da verdade e na minimização do fato (é só uma gripezinha); Na segunda fase, é onde se tenta convencer a população de que os fatos são estratégias para propagar o pânico e o medo, com objetivos ideológicos; A terceira e mais perigosa fase é a produção falsa de ideias, notícias, cientificismo sem bases teóricas, e a utilização do ciberespaço para propagar mais aceleradamente estas estratégias de gadificação da população. É, nesta fase, que as fakes news ganham os códigos binários e navegam rapidamente pelos computadores e smartphones. Geralmente, esses textos são palatáveis, simples e rasos, para facilitar o entendimento dessa população que, como relatei anteriormente, tem grandes fragilidades intelectuais, formais e de interpretação mais profundas e sistêmicas, são facilmente conduzidas como manadas. É, nesse momento, que os “gurus” do negacionismo começam a ditar as regras e a comandar os processos de comunicação e informação. Tornando-se elos perigosos à ciência e à luta contra a pandemia, as questões sociais e ambientais no mundo. Aí, sim, podendo, efetivamente, estabelecer o ódio, o caos e a desordem, ou seja, o verdadeiro apocalipse informacional. 
Cheque, busque, lute pela ciência e pela verdade.

 

#Vacina sim! – https://www.youtube.com/watch?v=zWBnuCfUKns

FAKE OU FATO .https://g1.globo.com/fato-ou-fake/coronavirus/

Peterson Azevedo

Professor da Rede Estadual e da Rede Anísio Teixeira/IAT.

 

 Referências

 

Bauman, Z. Modernidade líquida. (P. Dentzien, Trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2001.

 

Castells, M. A sociedade em rede. (R. V. Majer, Trad.). São Paulo: Paz e Terra. 2006.

 

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17ª. Ed. Rio de Janeiro, Brasil: Paz e Terra, 1987

 

HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005 (2001).

 

Lévy, P. Cibercultura. (C. I. da Costa, Trad.). São Paulo: Ed. 34. 1999.

Imagem 2 – Foto Peterson Azevedo

MORAES< Menezes Joalva. Ações  Governamentais na luta contra COVID 19 – Um estudo de caso nas instâncias Municipais e Estaduais em Salvador/Bahia/Brasil. TESE (Doutorado) (Universidade Aberta. Portugal. 2021 

 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008 (15ª edição). 

_______. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985.



 

_______. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988. 

 

SILVA, Taziane Mara; TEIXEIRA, Talita de Oliveira; FREITAS, Sylvia Mara Pires. 

Ciberespaço: uma nova configuração do ser no mundo. Acesso em: 24 de fev. de 2021.                                                                     








VERAS, Thor João de Sousa Veras. Negacionismo viral e política exterminista: notas sobre o caso brasileiro da Covid-19. 2020. Disponível em:  http://pat.educacao.ba.gov.br/recursos-educacionais/conteudo/exibir/12761. Acesso em: 25 de fev. de 2021. 

Casos de COVID. Disponível em:  https://news.un.org/pt/tags/casos-de-covid-19-no-mundo. Acesso em: 01 de mar. de 2021. 

Casos de COVID-19 no mundo. Disponível em:  https://coronavirus.jhu.edu/map.html. Acesso em: 01 de mar. de 2021. 

COVID na Bahia. Disponível em:  https://bi.saude.ba.gov.br/transparencia/. Acesso em: 01 de mar. de 2021.

Etimologia da palavra negacionismo. Disponível em: https://www.dicio.com.br/negacionista/#:~:text=Etimologia%20.  Acesso em: 24 de fev. de 2021

Fato ou Fake sobre o Coronavírus. Disponível em: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/coronavirus/. Acesso em: 24 de fev. de 2021.

     Geopolítica. Disponível   em: https://www.sogeografia.com.br/Conteudos/GeografiaEconomica/geopolitica/geopolitica.php. Acesso em: 24 de fev. de 2021.

 
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