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Professora Mary Garcia Castro - Arquivo pessoal. |
A violência contra a mulher é uma
temática que mexe com todos nós que buscamos uma sociedade melhor. Superar os
estados de agressividade que atingem as mulheres é uma meta dos que querem um
mundo menos hostil. Pensando no debate em que está inserida essa questão, a
equipe da Rádio Anísio Teixeira conversou a professora Mary Garcia Castro sobre o assunto, tendo como
inspiração o quadro Filmei! – Tapas na Alma, da TV Anísio
Teixeira / Rede Anísio Teixeira.
Mary é uma atuante socióloga, graduada
pela Universidade
Federal da Bahia e doutora pela Universidade da
Flórida, além de pesquisadora da A
Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais - Flacso e
bolsista da CNPQ. Autora do livro Juventude e
sexualidade no Brasil, juntamente com Miriam Abramovay e Lorena Bernadete da Silva. Seus estudos e
pesquisas versam sobre os temas: juventude, migrações internacionais, gênero,
família, mulher, feminismo, identidades e cidadanias, modernidade e
pós-modernidade e metodologia de pesquisa. Confira essa conversa:
Rádio Anísio Teixeira: Quais as principais formas de
violência contra a mulher?
Mary
Garcia Castro: São muitas as violências de gênero, ou seja,
aquelas que estão relacionadas com a mulher e codificadas socialmente e que se
dão também nas relações sociais entre homens e mulheres: violências verbais,
violências físicas, violências psicológicas; violências institucionais (como
educação sexista, padrões de beleza e publicidade que excluem algumas
mulheres), violência obstétrica, no campo da saúde, entre outras, e, claro, toda aquela que a mulher sente como tal. Hoje
violência de gênero engloba também lesbofobia, homofobia, transgenerofobia. Ver
Lei Maria da Penha e Lei contra o feminicídio o que se conceitua como violência
doméstica (um tipo, mas não o único de violência de gênero).
RAT: Quais os principais agressores?
MGC: Várias pesquisas indicam que a maior
probabilidade é de o agressor ser o marido ou o parceiro sexual ou um
conhecido.
RAT: Na sua opinião, qual o motivo das
mulheres violentadas não aceitarem ajuda?
MGC: As mulheres violentadas sentem
vergonha e pela ideologia dominante que elas absorvem, se sentem culpadas, como
se tivessem "provocado" pela roupa que usaram e ou por não se
comportarem de forma submissa. É muito
comum até em Delegacias perguntarem a queixante: "o que você fez para
merecer essa surra?". O amor
romântico também é uma ideologia que colabora com a violência simbólica, ou
seja, segundo Bourdieu, o tipo de violência em que a vítima não considera que foi
violentada e ate desculpa o agressor - "foi por amor"; "é que
ele é ciumento e gosta muito de mim". Por outro lado, há o medo, elas não
têm para onde ir, se pobres, ou não serão bem vistas pela família e amigos, se
forem classe média ou rica. E há a dependência econômica, como se livrar de uma
pessoa com quem vive se não tem para onde ir? E existe ainda a síndrome da mãe,
que atura tudo pelo amor dos filhos, "porque filho precisa de pai”.
RAT: É difícil para as agredidas se
perceberem como vítimas?
MGC: Para muitas sim pela ideologia
dominante que estimula baixa autoestima, a síndrome de mártir e o medo de ficar
só.
RAT: Existe uma saída para esse grave
problema?
MGC: Claro que há saídas! Não há país em
que a taxa de violência contra a mulher é 0,
mas não do mesmo nível do Brasil. Primeiro: políticas públicas que promovam autonomia
econômica das mulheres; segundo: educação com perspectiva de gênero nas
escolas, em que se trabalhe respeito ao outro, à outra; terceiro: Implementar
as leis que temos, como a Maria da Penha e contra o Feminicídio. Já foi um
ganho eliminar a punição de casos de agressões domésticas com uma cesta básica
e, na Maria da Penha, se incluir a violência psicológica. Mas muitas mulheres
não sabem seus direitos e muitos juízes se recusam a interpretar como devem as
leis, deixando que suas posturas machistas prevaleçam; quarto: recursos para as
Casas Abrigos, que foram multiplicadas no governo Dilma e tiveram recursos
cortados no governo Temer, pois sem a alternativa de onde ir, como denunciar e
sair do convívio com o agressor? O empoderamento das mulheres, por informação,
apoio, educação antissexista, amparo econômico são básicos. E, claro, educação
antissexista para os homens também e questionamento da noção de que amor e
relação sexual não implicam a propriedade do outro, da outra.