segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Corpo de Bombeiros Militar da Bahia: luz, câmera, ação!


Olá, pessoal!
Nos dias 27, 28 e 29 de novembro, no Instituto Anísio Teixeira (IAT), a Rede Anísio Teixeira ministrou um Workshop sobre produção audiovisual. O mesmo teve, como publico de destino, alunos oficiais do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia. Foram quarenta e oito participantes que, durante os três dias de evento, demosntraram muito interesse e proatividade em relação ao conteúdo abordado.

Fig.1: Alunos oficiais do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia durante o Workshop. Foto: Rodrigo Maciel

Esse encontro possibilitou, por demanda do Corpo de Bombeiros, o trabalho com um dos cinco módulos (Uso de software e licenças livres, Produção textual para multimeios, Fotografia, Produção audiovisual e Rádio) que fazem parte da formação “Produção de Mídias na Educação” da Rede AT. Nesse sentido, durante os encontros, foi trabalhado o módulo de “Produção audiovisual”, considerando seus processos de concepção e produção. Na oportunidade, os cursistas aprenderam noções básicas de roteiro para ficção, documentário e vídeo tutorial, etapas de produção, linguagem audiovisual e edição de vídeo. Também, durante todo o evento foram abordados temas voltados para questões éticas, tais como: direito autoral, licenças livres, autorização para uso de imagem e áudio e boas relações interpessoais.

Fig.2: Professor Geraldo Seara em aula de edição audiovisual Foto: Marcus Leone

Durante o workshop, os cursistas conheceram os equipamentos usados em diversas produções audiovisuais da Rede AT. Contudo foram priorizadas e trabalhadas técnicas eficientes para uso de celulares na realização dos vídeos, pois trata-se de um dispositivo móvel de fácil portabilidade, que os militares dispõem e através do qual podem fazer uso nas produções mais simples, considerando seus objetivos.

Fig.3: Cursistas exercitado captação de imagem e som com o professor Marcus Leone. Foto: Geraldo Seara.


Fig.4: Cursistas em aula de captação de imagem com o técnico Rodrigo Maciel e o professor Marcus Leone. Foto: Geraldo Seara.

Os processos audiovisuais de ensino e aprendizagem, durante o evento, se desenvolveram mediante práticas pedagógicas há muito fundamentadas nas atividades da Rede Anísio Teixeira, ou seja: em tais processos, a perspectiva efetivamente dialógica, contextualizada, ética, crítica e a realização colaborativa de conteúdos autorais são inerentes ao Know how formativo e de produção de conteúdos da Rede Anísio Teixeira.

Fig.5: Cursistas assistindo ao vídeo produzido por eles durante o processo. Foto: Peterson Azevedo.

Nos três dias, os mediadores (professor Geraldo Seara, professor Marcus Leone e o técnico Rodrigo Maciel) e os cursistas aprenderam e ensinaram muito. Foram momentos de teorias, experimentações e muita reflexão. O ensino e a aprendizagem, mais uma vez se fizeram em via de mão dupla. Os formadores, assim como os cursistas, aprovaram a interação e os conhecimentos adquiridos durante as aulas. “O conhecimento sobre a produção de vídeos vai servir para a nossa construção de vídeos educativos, prevencionistas para que o Corpo de Bombeiros chegue mais perto da sociedade”, disse a aluna oficial Arilma Santos. O aluno oficial Gilvã Rodrigues também disse: “É importante esse curso para nosso trabalho porque estamos buscando fazer um tutorial que possa levar uma mensagem para toda a comunidade”.

Fig.6: Cursistas em simulação para gravação de cena. Foto: Rodrigo Maciel

Certamente, para ambos os lados, foram momentos importantes e significativos de aprendizagem. Como em vários momentos do curso, após cada assunto abordado, os mediadores ouviram dos cursistas, de forma enfática, o termo “MB”, sem dúvida, a Rede Anísio Teixeira retribui, com o mesmo entusiasmo, o referido termo que significa “MUITO BOM!” Isso se destina tanto para os participantes da formação quanto para todo o Corpo de Bombeiros Militar da Bahia. E é exatamente assim que podemos definir os ganhos desse processo.
Sigamos em frente com força e sensibilidade sempre!

Fig.7: A turma reunida com os professores Geraldo Seara e Marcus Leone. Imagem feita por um dos cursistas.

Marcus Leone Oliveira Coelho
Professor da Rede Pública Estadual de Ensino da Bahia

Publicado originalmente em 
http://blog.pat.educacao.ba.gov.br/blog/2017/12/03/corpo-de-bombeiros-militar-da-bahia-luz-camera-acao/

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

VI SERNEGRA Leva Discussão Sobre Negritude e Gênero para o Vale do Itajaí/SC


IFSC - Campus Gaspar


A VI Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça – SERNEGRA ocorreu entre os dias 09 e 11 de novembro de 2017, no Instituto Federal de Santa Catarina – Campus Gaspar, na região do Vale do Itajaí, também conhecido como Vale Europeu.

O evento SERNEGRA foi idealizado pelo Grupo de Pesquisa Estudos Culturais sobre Classe, Gênero e Raça, do Instituto Federal de Brasília, onde  aconteceram as edições anteriores. O interesse em levá-lo para Santa Catarina foi da professora Renata Waleska Pimenta– Coordenadora do NEABI – Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas, do Campus Gaspar. Para os organizadores, essa iniciativa está em consonância com a trajetória do IFSC – Campus Gaspar, no que se refere à temática, principalmente, através das ações do NEABI junto à comunidade, ao fomentar processos formativos voltados para a inserção cultural de imigrantes e refugiados haitianos que passaram a viver, nos últimos anos, no Vale do Itajaí.

Nessa VI edição, a temática que direcionou as discussões dos Seminários Temáticos, Oficinas, Painéis Temáticos e dos Pôsteres foi Educação, Transdisciplinaridade e Diáspora. Foram 12 Seminários Temáticos que ocorreram na tarde, do dia 10, e discutiram temas como o enfrentamento do racismo e das questões de gêneros nas manifestações artístico-culturais e na pesquisa científica, na Educação, nas Ações Afirmativas e nas redes sociais digitais.

O grupo de educadores da Rede Anísio Teixeira que participou do SERNEGRA 2017 apresentou trabalhos no Seminário Temático 01 – Manifestações Artísticas e Culturais no Enfrentamento do Racismo na Educação Formal e Informal, sendo: Repositório de Conteúdos Livres Aberto à Comunidade Escolar, Joalva Moraes; Rádio Anísio Teixeira – Uma Experiência em Arte-Educação e Comunicação no Ambiente Escolar como Enfrentamento do Racismo, Carlos Barros; Formações Audiovisuais para Estudantes de Escolas Públicas, Fátima Coelho; Programa Educativo de TV Discute Diversidades, Geize Gonçalves.

Além dessas comunicações orais do ST 01, também foram apresentados outros trabalhos: Cultura Afro-Brasileira e a Construção de Identidade Quilombola: Um Estudo de Caso Sobre as Manifestações Artístico-Culturais no Território Quilombola de Canarana - Estado da Bahia, Claudia Pessoa; Um Cantar a Própria Vida: O Marabaixo como Elo Entre a História e Memória de Afrodescendentes, Mônica Nascimento; e A Dança Afro como Possibilidade de Conteúdo em Artes e Educação Física: Estudo de Revisão, Anderson da Silva Honorato e Andressa Vitorinho Cerqueira.


Integrantes do Seminário Temático 01



Para o compartilhamento dessas experiências tão enriquecedoras, a Rádio Anísio Teixeira vai produzir uma edição especial do programa Nas Ondas da Rede sobre o VI SERNEGRA. Foram entrevistados o professor Fernando Mezadri, membro da Comissão Organizadora e Científica, e a professora Anna Maria Canavarro, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros – ABPN. Confira, em breve, os vídeos com making of dessas entrevistas.


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

A Geografia e seus caminhos – contribuições na era da informação


Por Peterson Azevedo

Hoje, nosso papo é sobre os caminhos trilhados pela geografia contemporânea ou como alguns autores costumam chamar: geografia crítica. O termo “geografia” é utilizado desde o período conhecido como Antiguidade Clássica, termo muito utilizado para descrever os “acidentes” geográficos, ou melhor, os aspectos fisiográficos do planeta, como: o relevo, os tipos de biomas, as funções hídricas e físicas do rio, dentre outras. Por ser filha da ciência filosófica, a observação foi o ponto de partida para essa área do conhecimento humanista. Apenas no início do século XIX, passou a ganhar pompas de uma ciência concreta e aceita nas academias da Europa. Duas escolas se destacaram nesse processo: a escola Alemã, com sua teoria do determinismo geográfico, que deu início ao processo de interpretação do espaço como forma de poder e conquista. Os principais pensadores desse período foram Humboldt, Ritter e Ratzel, que reafirmava que o território e sua expansão eram vitais para a construção de uma sociedade imperialista. Afirmava também que o ambiente(natureza) condicionava as relações sociais e poderiam dificultar ou ampliar as condições de sociabilidade, ou seja, o homem era visto apenas em seu aspecto biológico. Sendo assim, desconsiderava-se seu aspecto social. Muito dessa teoria fortaleceu o discursos expansionista da Alemanha do início do século XIX.

Outra escola muito importante para o pleno desenvolvimento do conhecimento geográfico foi a Francesa, principalmente com o geógrafo Vidal de La Blache, liberalista, grande crítico da teoria alemã do determinismo geográfico – e sugeria, como contraponto ao pensamento de Ratzel, a teoria do Possibilismo Geográfico, na qual propõe que o homem seja o principal ator condicionante e modificador do meio, ou seja, o ponto de partida do pensamento geográfico. É na escola francesa que o homem e suas transformações no meio ambiente, por meio do trabalho e de suas tecnologias, se firmam como o principal objeto de estudo da Geografia moderna. Apesar do liberalismo francês, a Geografia ainda estava muito prisioneira do “poder” e da geopolítica de expansão territorial, como afirmou o geógrafo Yves Lacoste: “isso [a geografia] serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra”(LACOSTE, 1989 p.1).

Em meados do século XX, a Geografia Crítica passa a ter um papel mais atuante nas questões de empoderamento social, propondo de forma crítica uma leitura de mundo que possibilite romper as amarras com o poder do capital, a geografia passa agir de maneira libertária, passando a atuar além dos muros da escolarização, deixando de ser apenas uma disciplina escolar e passando a configurar como instrumento de política pública, construindo também alicerces. Quando a ciência geográfica passa a ter um olhar mais crítico sobre o espaço construído e suas relações sociológicas e tecnológicas, muitos geógrafos passam a expor seus pensamentos de maneira mais libertária e crítica. Os mais importantes geógrafos da época foram Pierre George e David Harvey, que passam a estabelecer diálogos mais próximos com a sociologia, filosofia e a antropologia, em especial um diálogo mais amplo com a teoria marxista, discutindo como os espaços geográficos eram dinamizados e organizados de acordo com os bens de produção e os conflitos estabelecidos pela luta de classes.

Um geógrafo também entusiasta dessa linha de pensamento libertário e crítico foi o nosso baiano de Brotas de Macaúbas e um dos maiores nomes do pensamento geográfico na contemporaneidade. Estamos falando do intelectual e professor Milton Santos, ganhador do prêmio nobel da geografia, o Vautrin Lud, em 1994, com o livro Por uma geografia nova, da crítica da geografia a uma geografia crítica (1978). O professor Milton Santos propõe que o espaço geográfico se torne o principal objeto de estudo dessa ciência, que passa cada vez mais a ver o homem e suas estruturas de trabalho como condicionantes de suas análises interpretativas. Um dos objetos mais discutidos por ele é o intenso processo da Globalização econômica, instituído e dominado pelos países detentores do capital moderno. Milton afirmava que o processo de globalização não deveria ser controlado pelas classes dominantes e, sim, deveria ser demandado e incrementado pelas bases sociais do espaço construído, o lugar deve ser mais importante que o espaço mundializado.

No início do século XXI, com a intensificação e massificação das novas tecnologias da informação e da comunicação, o pensamento geográfico, que já estava consolidado como uma ciência humana e crítica, passa a se tornar cada vez mais uma ciência do poder, ou melhor, do empoderamento popular, ao alcance de todos, se tornando possivelmente uma ciência de contraponto ao unilateralismo do pensamento. E o que a geografia pode contribuir com a sociedade da informação? Não podemos negar, na contemporaneidade, as diversas forma de leituras e da construção de novas configurações de diálogos com o mundo “globalizado”, que vão além da palavra escrita. A imagem e, em especial, a fotografia, vem se tornando um forte instrumento de leitura e interpretação do espaço geográfico. Para Sontag, “a fotografia é um fenômeno que ocupa lugar central na cultura contemporânea”. A imagem pode ser uma forma mais dinâmica e um poderoso instrumento de diálogo no mundo globalizado, já que a escrita visual independe de entendimento direto, no que se refere à linguística, amplificando o modo de se expressar, por meio da interpretação imagética. A imagem deve ser compreendida como instrumento dialógico crítico no tempo e no lugar, problematizando e contextualizando as relações que se estabelecem no espaço geográfico e suas implicações. A imagem fotográfica produzida deve ser entendida e interpretada como sendo parte conceitual e de identidade do seu interlocutor. Quem produz uma imagem, conta sua própria história! Fotografar é construir uma narrativa visual própria, é compartilhar seu repertório cultural/geográfico, compartilhar sua territorialidade. Hoje, com a popularização das redes sociais, dos objetos educacionais livres, a democratização tecnológica nas produções audiovisuais e ao acesso aos aparelhos de telecomunicações, o ensino da geografia tem a possibilidade de democratizar seus discursos, desprendendo-se do chão acadêmico, que tanto os polariza. O professor e o estudante, principalmente da escola pública, passam a ser coautores de suas aprendizagens, deixando de serem meros espectadores do pensamento geográfico.

Como vimos amigos, a Geografia passou por diversas fases no desenvolvimento do pensamento humano e, por ser dinâmica e contemporânea, vem ampliando sua capacidade de ler e interpretar o espaço, livre das amarras do poder, possibilitando assim um olhar mais crítico sobre as relações sociais que se configuram e reconfiguram no “fazer” o mundo.

Deixemos as ciências humanas fazerem seus papéis: democratizar o pensamento.

REFERÊNCIAS

CLAVAL, Paul Charles Christophe. Geografia Cultural: um balanço. Geografia (Londrina), Londrina, v. 20, n. 3, p. 005-024, set./dez. 2011.<http://www.uel.br/revista/uel/index.php/geografia>

YVES, Lacoste. A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 2. ed. Campinas: Papirus, 1989.

Acesso em 02 de março de 2017 file:///home/peterson/Downloads/23-106-1-PB.pdf

Acesso em 02 de março de 2017 http://miltonsantos.com.br/site/biografia/

A Geografia e as mídias e tecnologias educacionais livres

Acesso em 02 de março de 2017 http://ambiente.educacao.ba.gov.br/

Acesso em 02 de março de 2017 http://geografiavisual.com.br/

Acesso em 07 de março de 2017 http://mira.educacaoaberta.org/





terça-feira, 19 de setembro de 2017

Nas Ondas da Rede no Soundcloud


Os episódios do programa da Rádio Anísio Teixeira, Nas Ondas da Rede, estão disponíveis no Soundcloud. Na playlist, encontram-se os dois episódios pilotos, 2 de Julho e Internetês, além das produções realizadas pelos estudantes da rede pública de ensino na Cobertura Colaborativa na Campus Party, que ocorreu de 09 a 13 de agosto deste ano.

Confiram:




Estudantes gravando na Cobertura Colaborativa na Campus Party

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Resultados do curso realizado em Côcos


Eis mais um resultado da formação em interpretação e produção de vídeos da Rede Anísio Teixeira, com foco na história local. Durante a construção do roteiro já dava para perceber que o filme revelaria fatos ainda não conhecidos pela maioria dos coquenses. O roteiro trazia a história em volta de um sítio arqueológico descoberto por acaso, durante a construção de uma rodovia, no município de Côcos, fronteira com Minas Gerais. Ao chegar no local, conduzidos pelo professor Fábio Barros (História), fomos impactados pela beleza do lugar que, de fato, precisa ser cuidado e preservado. Vimos e registramos inscrições gravadas nas rochas que podem ter sido feitas há muitos anos e isso precisa ser investigado por autoridades competentes no assunto. Ali fizemos tomadas incríveis, passando a ser, o lugar, o protagonista. Filme pronto e divulgado: os estudantes e professores se viram e aprovaram. Foi uma festa!




Se nada mais tivesse acontecido, nós da Rede Anísio Teixeira, como professores-formadores já estaríamos satisfeitos com a ampliação do conceito de leitura, tão necessária para as intervenções críticas que precisamos fazer, ainda mais diante de tanta manipulação da grande mídia. Nem todos em Côcos sabiam da existência do espaço escolhido para as gravações, muito menos sobre a importância histórica e cultural daquela região que precisa passar por estudos.

Visite a Plataforma Anísio Teixeira para mais vídeos.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Ping Pong com Mary Garcia Castro - Violências contra a mulher


Professora Mary Garcia Castro - Arquivo pessoal.

A violência contra a mulher é uma temática que mexe com todos nós que buscamos uma sociedade melhor. Superar os estados de agressividade que atingem as mulheres é uma meta dos que querem um mundo menos hostil. Pensando no debate em que está inserida essa questão, a equipe da Rádio Anísio Teixeira conversou a professora Mary Garcia Castro sobre o assunto, tendo como inspiração o quadro Filmei! – Tapas na Alma, da TV Anísio Teixeira / Rede Anísio Teixeira.

Mary é uma atuante socióloga, graduada pela Universidade Federal da Bahia e doutora pela Universidade da Flórida, além de pesquisadora da A Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais - Flacso e bolsista da CNPQ. Autora do livro Juventude e sexualidade no Brasil,  juntamente com Miriam Abramovay e Lorena Bernadete da Silva. Seus estudos e pesquisas versam sobre os temas: juventude, migrações internacionais, gênero, família, mulher, feminismo, identidades e cidadanias, modernidade e pós-modernidade e metodologia de pesquisa. Confira essa conversa:



Rádio Anísio Teixeira: Quais as principais formas de violência contra a mulher?

Mary Garcia Castro: São muitas as violências de gênero, ou seja, aquelas que estão relacionadas com a mulher e codificadas socialmente e que se dão também nas relações sociais entre homens e mulheres: violências verbais, violências físicas, violências psicológicas; violências institucionais (como educação sexista, padrões de beleza e publicidade que excluem algumas mulheres), violência obstétrica, no campo da saúde, entre outras,  e, claro, toda  aquela que a mulher sente como tal. Hoje violência de gênero engloba também lesbofobia, homofobia, transgenerofobia. Ver Lei Maria da Penha e Lei contra o feminicídio o que se conceitua como violência doméstica (um tipo, mas não o único de violência de gênero).

RAT: Quais os principais agressores?

MGC: Várias pesquisas indicam que a maior probabilidade é de o agressor ser o marido ou o parceiro sexual ou um conhecido.

RAT: Na sua opinião, qual o motivo das mulheres violentadas não aceitarem ajuda?

MGC: As mulheres violentadas sentem vergonha e pela ideologia dominante que elas absorvem, se sentem culpadas, como se tivessem "provocado" pela roupa que usaram e ou por não se comportarem de forma submissa.  É muito comum até em Delegacias perguntarem a queixante: "o que você fez para merecer essa surra?".  O amor romântico também é uma ideologia que colabora com a violência simbólica, ou seja, segundo Bourdieu, o tipo de violência em que a vítima não considera que foi violentada e ate desculpa o agressor - "foi por amor"; "é que ele é ciumento e gosta muito de mim". Por outro lado, há o medo, elas não têm para onde ir, se pobres, ou não serão bem vistas pela família e amigos, se forem classe média ou rica. E há a dependência econômica, como se livrar de uma pessoa com quem vive se não tem para onde ir? E existe ainda a síndrome da mãe, que atura tudo pelo amor dos filhos, "porque filho precisa de pai”.

RAT: É difícil para as agredidas se perceberem como vítimas?

MGC: Para muitas sim pela ideologia dominante que estimula baixa autoestima, a síndrome de mártir e o medo de ficar só.

RAT: Existe uma saída para esse grave problema?

MGC: Claro que há saídas! Não há país em que a taxa de violência contra a mulher é 0,  mas não do mesmo nível do Brasil.  Primeiro: políticas públicas que promovam autonomia econômica das mulheres; segundo: educação com perspectiva de gênero nas escolas, em que se trabalhe respeito ao outro, à outra; terceiro: Implementar as leis que temos, como a Maria da Penha e contra o Feminicídio. Já foi um ganho eliminar a punição de casos de agressões domésticas com uma cesta básica e, na Maria da Penha, se incluir a violência psicológica. Mas muitas mulheres não sabem seus direitos e muitos juízes se recusam a interpretar como devem as leis, deixando que suas posturas machistas prevaleçam; quarto: recursos para as Casas Abrigos, que foram multiplicadas no governo Dilma e tiveram recursos cortados no governo Temer, pois sem a alternativa de onde ir, como denunciar e sair do convívio com o agressor? O empoderamento das mulheres, por informação, apoio, educação antissexista, amparo econômico são básicos. E, claro, educação antissexista para os homens também e questionamento da noção de que amor e relação sexual não implicam a propriedade do outro, da outra.


 
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