quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"É NÓS NA FLICA"

Foto: Peterson Azevedo


Making of da cobertura da Rede Anísio Teixeira na I Festa Literária Internacional de Cachoeira - FLICA, entre os dias 11 e 16 de outubro de 2011.


Foto: Peterson Azevedo

Entrevista com Nildon Pitombo, Assessor Especial da Secretaria da Educação da Bahia.


Foto: Geraldo Seara

Joalva Moraes e Peterson Azevedo trabalhando, na redação improvisada (Pousada Rio Doce - São Félix).



Foto: Peterson Azevedo


Geraldo Seara em plena atividade.


Foto: Peterson Azevedo

Joalva Moraes na cobertura das mesas.



Foto: Peterson Azevedo

Márcio Guerreiro, Geraldo Seara e Joalva Moraes - uma pausa para o descanso.



Foto: Peterson Azevedo

Cobertura jornalística - Joalva Moraes



Foto: Peterson Azevedo

Equipe entregando à juíza Luislinda Valois a Edição 6, do Almanaque Viramundo / TV Anísio Teixeira, onde a jurista foi entrevistada.


Foto: Peterson Azevedo

Geraldo Seara entrevistando um estudante da cidade de Nazaré das Farinhas que visitava a FLICA.


Foto: Peterson Azevedo

Márcio Guerreiro entrevistado pela Rede Bahia.



Foto: Peterson Azevedo

Geraldo Seara cobrindo uma das mesas.



Foto: Peterson Azevedo


Márcio Guerreiro em atividade para o blog do Professor Web.


Foto: Peterson Azevedo

Geraldo Seara e Joalva Moraes entrevistando Darlon Silva, vencedor do TAL (Tempos de Arte Literária) 2010.


Foto: Peterson Azevedo

Joalva Moraes acompanhando mais uma mesa da FLICA.



sábado, 22 de outubro de 2011

ENEM NÃO É VESTIBULAR

Claudia Pessoa


Foto: Joalva Moraes
O Exame Nacional do Ensino Médio teve como marco inicial o ano de 1998 com o intuito de traçar um panorama da qualidade do ensino público no país. Além de fazer um Raio X, possibilitaria a criação de políticas públicas estruturais para melhoria do ensino no país garantindo o que versa nos documentos oficiais como os PCN´S, por exemplo. A avaliação prima pela transversalidade, valorizando a análise lógica, compreensão e interpretação de questões, selecionar, organizar, compreender e interpretar dados em disciplinas diversas, relacionar informações, além de apresentar, no caso da Redação, uma proposta de intervenção social, portanto estimulá-lo a repensar criticamente a sociedade na qual está inserido. São 13 anos e, obviamente, ele já se reformulou, se sustenta como uma avaliação séria, mas também construiu uma imagem equivocada para muitos estudantes. Claro que esta imagem reflete muito os desejos da sociedade.

Para mim, este é, verdadeiramente, o único exame que possibilita o estudante de escola pública ingressar numa universidade de maneira igualitária com um estudante da rede privada, visto que não se trata de quantidade de vagas nem de competição e sim de DESEMPENHO. Erroneamente ouvimos sempre “você passou no ENEM?” Como assim? A proposta do exame não está sustentada na aprovação ou reprovação, mas na construção do estudante ao longo da sua vida escolar, nas competências adquiridas e nas habilidades desenvolvidas no caminho vivenciado durante o Ensino Médio. Hoje, o resultado dele pode ser utilizado para ingresso no SISU (Sistema de Seleção Unificada), no (Programa Universidade para Todos) que possibilita a aquisição de bolsas integrais ou parcias nas universidades particulares, Atualmente, as universidades públicas também estão utilizando o resultado para ingresso nelas. Portanto, muito mais democrático e justo.


Assista aos vídeos com entrevistas de Claudia Pessoa sobre o ENEM:










segunda-feira, 17 de outubro de 2011

REDE ANÍSIO TEIXEIRA NA FLICA - SEXTO DIA




Foto: Peterson Azevedo



Homenagem, Pornografia e Sotaques


Por: Joalva Moraes


Foto: Peterson Azevedo - Darlon Silva, João Vanderlei, José Inácio e Lima Trindade
O último dia da Festa Literária Internacional de Cachoeira não poderia ter começado melhor. A mesa da manhã, que recebeu os poetas baianos contemporâneos José Inácio Veira de Melo, João Vanderlei de Moraes Filho e Darlon Silva, prestou uma justa homenagem ao falecido poeta e cidadão de Cachoeira, Damário Dacruz. Quem mediou foi o editor da revista eletrônica Verbo21, Lima Trindade.


Recitando, sempre que possível, Dacruz, João Vanderlei refletiu sobre a  poesia. Ele disse que, quando começou, foi muito questionado quanto ao fato de ser ou não um poeta. "O jovem quando está começando quer romper barreiras, mas isso faz com que não seja acolhido dentro de uma tradição literária", afirmou.


Foto: Peterson Azevedo - Darlon Silva
Silva, com seus 20 anos, foi o mais jovem participante da Flica. Para ele, não tem como dizer que a literatura baiana contemporânea é de vanguarda, só a posterioridade é quem vai definir. Silva foi o grande vencedor do TAL 2010 (Tempos de Arte Literária), festival promovido pela Secretaria da Educação da Bahia.

Sobre a produção de poetas bainos atuais, Melo declarou que não conhece poeta pronto, mas muitos estão produzindo e movimentando-se. Quanto  à sua poesia, ele falou: "Não quero poesia perfeita para mim, quero cheia de imperfeições e humanidades".

 
Foto: Peterson Azevedo - Victor Mascarenhas e Reinaldo Moraes
A mesa vespertina foi a mais descontraída de todas da Flica. A irreverência dos escritores Reinaldo Moraes e Victor Mascarenhas trouxe à baila o tema Escrachos, Escárnios e Pornografia. Mascarenhas disse que a pornografia é um elemento da sua escrita, é a razão da história. Já Moraes explicou que nesse tipo de literatura: "as cenas de sexo não têm o objetivo de excitar o leitor, por isso não tem o perfil erótico".

 
Foto: Peterson Azevedo - Germano Almeida, João Coutinho e Camilo Afonso
A literatura de Língua Portuguesa e as relações entre Portugal e suas antigas colônias foram os assuntos discutidos na última mesa da Flica 2011. Portugal, Cabo Verde e Angola foram representandos por João Pereira Coutinho - escritor e colunista, Germano Almeida - escritor, e Camilo Afonso - diretor do centro cultural Casa de Angola na Bahia, respectivamente.

Afonso informou que seu país, depois de ter vivido anos de luta armada para conquistar a independância, hoje está num processo de reconstrução: "Se não fosse o Brasil, não sei o que seria de Angola. O apoio dos países do Leste foi fundamental para que Angola fosse o que é hoje".

Em Cabo Verde, o processo de independência foi diferenciado. Segundo Almeida, ela não surgiu como ideia de libertação, mas sim como estratégia de melhorar a qualidade de vida.

O escritor português questionou a política editorial de livros produzidos em Língua Portuguesa, defendendo o livre acesso entre os países da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

E assim, terminou a Primeira Festa da Literatura em Cachoeira. Clécia Queiroz fechou as apresentações no Palco Cachoeira. Para 2012, os organizadores garantiram mais uma edição e o Diretor da Fundação Pedro Calmon (FPC), Ubiratan Castro, anunciou a realização de um concurso literário no qual doze escritores selecionados se apresentarão na Flica do próximo ano.

Foto: Peterson Azevedo - Entrevistando Aurélio Schommer
O curador do evento, Aurélio Schommer, também informou que será produzido um material audiovisual com todas as mesas o qual será disponiblizado para a Secretaria da Educação da Bahia com o objetivo de ser distribuído nas escolas públicas baianas. Vida longa à Flica!


 



Fotos: Peterson Azevedo
Edição: Geraldo Seara

REDE ANÍSIO TEIXEIRA NA FLICA - QUINTO DIA




Foto: Peterson Azevedo


Arte Literária, Romances e Geografias

Por: Joalva Moraes


O sábado na Flica começou com o debate sobre arte literária e grande literatura. Discutiram acerca desse tema os escritores e professores Jorge Araújo (UEFS) e Mayrant Gallo, além do poeta e romancista Carlos Barbosa. Por conta de imprevistos, Vagner Fernandes não pôde vir a Cachoeira, ficando a mediação dessa mesa sob a responsabilidade de Aurélio Schommer, curador da Festa.

Gallo, ao refletir sobre a arte da literatura, disse: "A arte literária existe, caso contrário tudo seria literatura. Quando penso num poema, desloco a linguagem comum do cotidiano para uma forma sensível". Para esse autor, a distinção entre o conto e o romance está no fato de que o primeiro precisa ter um argumento bem definido para chegar ao efeito final; já o romance pode ser criado a partir de uma imagem que esteja destinada a uma estrutura romanesca.

A literatura para Barbosa é um "aprendizado para a vida e para a morte". Ele informou que sua experiência com essa arte é de felicidade absoluta: "A literatura colocava, no meu colo, um universo de prazeres e delícias".

O momento de criação, para Araújo, pode variar a depender do criador. A inspiração existe, porém "o processo de maturação da história é o que mais importa".

A utilização das tecnologias, contrapondo-se ao livro em papel, foi o assunto da mesa vespertina. O especialista em publicações eletrônicas, Bob Stein, e o pesquisador da cibercultura, André Lemos, participaram desse debate, mediados pelo doutor em Comunicação e Semiótica, Fábio Fernandes.


Foto: Peterson Azevedo - Pedro Mexia, Hélio Pólvora e Rosel Soares
À noite, foi a vez de discutir as literaturas produzidas no Brasil e em Portugal. Estavam presentes o poeta e cronista português, Pedro Mexia, e o escritor, jornalista e crítico literário baiano, Hélio Pólvora. O editor Rosel Soares foi o mediador.

Segundo Mexia, nas últimas décadas do século XX, os portugueses ignoraram a literatura realizada por brasileiros. Ele acredita que "a ficção brasileira é melhor que a portuguesa, mas o mesmo não ocorre com a poesia. Neste caso, os portugueses são melhores".

Foto: Peterson Azevedo - Hélio Pólvora


Sobre a importância da Flica, Pólvora desejou que esse evento "vença o desafio de fazer com que o brasileiro leia mais". O original som de Mikael Mutti e seu Percussivo Mundo Novo foi a atração do Palco Cachoeira, finalizando a programação do quinto dia da Festa Literária.









Fotos: Peterson Azevedo
Edição: Geraldo Seara

sábado, 15 de outubro de 2011

REDE ANÍSIO TEIXEIRA NA FLICA - QUARTO DIA



 
Foto: Peterson Azevedo - Estudantes na Flica



Negritude, História e Polêmicas


Por: Joalva Moraes


A Festa Literária continua pelas ruas de Cachoeira. Estudantes de todas as idades participaram das diversas atividades promovidas pela Flica, no Conjunto do Carmo, no Centro Histórico.

Foto: Peterson Azevedo - Luislinda Valois, Ana Maria Gonçalves, Joel Rufino e Márcio Meirelles
A mesa matutina, mediada pelo diretor teatral e ex-Secretário da Cultura da Bahia Márcio Meirelles, foi emocionante. A juíza Luislinda Valois empolgou a plateia com seu discurso afirmativo e consciente da importância da luta por melhores condições para os afrodescendentes: “O negro já nasceu condenado. Para que isso mude, ele precisa lutar com a força que tem para que os governantes melhorem a sua condição de vida. Vamos buscar o que é nosso. Esse é o nosso dever”.

O historiador Joel Rufino dos Santos considerou que, em nossa sociedade, existem muitas contradições, sendo a questão racial uma delas. Ele acredita que o sistema de cotas para negros é um avanço da democracia brasileira.

Foto: Peterson Azevedo - Luislinda Valois e Ana Maria Gonçalves
O comercial da Caixa Econômico, no qual um ator branco atuou como Machado de Assis, foi sinalizado pela escritora Ana Maria Guimarães como um exemplo de negação de todo passado histórico do negro no Brasil.

 
Foto: Peterson Azevedo - Nei Lopes
À tarde, o cientista social e escritor Nei Lopes contou como o samba carioca está presente em seus livros. Ele disse que decidiu escrever ficção porque ela  é “a forma, intelectualmente, espairecer, brincando com as informações e conhecimentos adquiridos.

Foto: Peterson Azevedo - Nei Lopes,Rodrigo Constantino e Liv Sovik
Discussões acaloradas entre os debatedores e citações polêmicas acerca da existência do racismo no Brasil e da eficiência da política de reparação. Participaram: Nei Lopes (palestrante da tarde), Rodrigo Constantino – economista e Liv Sovik – professora doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O mediador foi Aurélio Schommer.

E para aliviar as tensões, o Samba de Roda do Recôncavo fechou o quarto dia da Flica, dedicado as questões étnico-raciais. O samba de roda cachoeirano de D. Dalva levou tradição e elegância para o Palco Cachoeira.



Fotos: Peterson Azevedo
Edição: Geraldo Seara

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

REDE ANÍSIO TEIXEIRA NA FLICA - TERCEIRO DIA



Foto: Peterson Azevedo


Baianidade e Histórias na Flica


Por: Joalva Moraes


Foto: Peterson Azevedo - Estudante da Rede Píblica Estadual
O sotaque baiano invadiu a Flica, na manhã dessa quinta-feira (13). Estudantes de Cachoeira e cidades vizinhas compareceram em massa. O jornalista e escritor Gustavo Falcón, a escritora e diretora teatral Adelice Souza e o comunicólogo e também escritor Márcio Matos compartilharam suas experiências literárias, mediados pelo professor universitário Sérgio Rivero.



Foto: Peterson Azevedo - Márcio Matos, Adelice Souza, Gustavo Falcón e Sérgio RiveroSobre o processo criativo, Falcón contou que o dele foi construído a partir de sua história de vida, sempre privilegiando a reflexão: “A razão é vital, já que sou um ensaísta”. Matos lembrou da importância da literatura como instrumento que oferece tanto ao leitor como ao escritor um processo de significação das coisas. Ele disse: “O fascinante da literatura é o momento em que ela deixa de ser fato e passa a ser criação e recriação”.


Foto: Peterson Azevedo - Sérgio Rivero, Gustavo Falcón, Adelice Souza, Márcio Matos, Aurélio Shommer
Já Adelice afirmou que, em seus escritos, ela, enquanto pessoa, está sempre escondida e falou ainda que seu processo de escrita é teatral, carnal e corporal, influenciado pelas técnicas do Yoga. “É uma experiência completa”, concluiu.


Foto: Peterson Azevedo - Ana Maria Gonçalves
A cidade de Cachoeira foi a protagonista na conversa da tarde. A mineira Ana Maria Gonçalves, autora do livro Um Defeito de Cor, declarou que, ao chegar nesta cidade em 2002, para realizar as pesquisas para o livro, encontrou a Cachoeira do século XIX: “Através dos olhos da personagem, uma africana escravizada desde a infância, eu via a Cachoeira daquele período”.

Ana Maria vê a literatura como uma grande viagem interior, guardiã do passado e transformadora do presente. “Ao escrever, eu buscava resgatar minha identidade negra”, acrescentou.


Foto: Peterson Azevedo - Leandro Narloch
À noite, foi a vez do curitibano Leandro Narloch falar de seu livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. Nele, Narloch vai na contramão da história oficial brasileira e desconstrói heróis, resgata personagens esquecidos, apresentando outras verdades.

O som de Magary, que mistura rock, reggae, funk, soul com ritmos tradicionais do Recôncavo baiano, fechou o terceiro dia da Festa Literária de Cachoeira.



 

Fotos: Peterson Azevedo
Edição: Geraldo Seara

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

REDE ANÍSIO TEIXEIRA NA FLICA - SEGUNDO DIA



Foto: Peterson Azevedo



Paradidáticos, Vilas e Contos


Por: Joalva Moraes


A Festa da literatura continua na terra da Irmandade da Boa Morte. O segundo dia da Flica trouxe para a cidade de Cachoeira muito conhecimento, história e música.

Foto: Peterson Azevedo
Pela manhã, a mesa mediada pelo Assessor Especial da Secretaria da Educação do Estado da Bahia - SEC, Nildon Pitombo, discutiu a importância dos livros paradidáticos para a Educação. Participaram desse encontro Ubiratan Castro, historiador e Diretor Geral da Fundação Pedro Calmon – FCP, Pawlo Cidade, escritor e pedagogo da cidade de Ilhéus e Silvino Bastos, pesquisador da Escola Politécnica da UFBA e Presidente do Comitê de Autores da Câmara Bahiana do Livro.


Foto: Peterson AzevedoO diálogo entre os presentes sinalizou a necessidade de fortalecer o paradidático como forma de difusão do conhecimento. Segundo Castro, os resultados de pesquisas científicas e o relato de fatos históricos tendem a serem divulgados por uma literatura agradável, leve que seduz o leitor – estudante.



O escritor de Ilhéus disse que, “às vezes, o livro paradidático passa a ser didático, devido à obrigatoriedade da leitura”. Para que isso não ocorra, Cidade alerta para a liberdade de o leitor em escolher os livros que mais lhe agradem, além do incentivo a salas de leitura.

Foto: Peterson AzevedoBastos afirmou que “a criança, desde pequena, precisa ser motivada a ler”. Ele acredita que, sem esse estímulo, torna-se muito difícil descobrir o prazer da leitura. Sobre o paradidático, ele disse: “É uma maneira de passar o conhecimento de uma forma mais agradável para o leitor”.

À tarde, Ubiratan Castro, juntamente com Aurélio Schommer, deu uma aula sobre a formação das cidades do Recôncavo da Bahia. O tema versou acerca das três primeiras vilas baianas: Cachoeira, com sua relevância comercial, São Francisco do Conde e Jaguaripe.

A mesa da noite teve como participantes os contistas Ronaldo Correia de Brito, cearense radicado em Recife – Pernambuco, e Marcelino Freire, pernambucano. A medicação foi do curador da Flica, Aurélio Schommer.

Foto: Peterson Azevedo
Também, nessa quarta-feira, não faltaram, nas ruas de Cachoeira, atividades lúdicas para as crianças que estavam comemorando o seu dia. A música urbana da BaianaSystem finalizou a programação do segundo dia da Festa, oferecendo ao público uma sonoridade experimental marcada pelas influências culturais brasileira, africana e jamaicana.





Fotos: Peterson Azevedo
Edição: Geraldo Seara

REDE ANÍSIO TEIXEIRA NA FLICA



Foto: Peterson Azevedo



Começa a Festa Literária Internacional de Cachoeira


Por: Joalva Moraes

A primeira Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) foi aberta na noite da terça-feira (11), no Convento do Carmo. A cerimônia de abertura contou com a presença de políticos e de representantes da cultura e das artes baianas, como Albino Rubim - Secretário da Cultura da Bahia, Olívia Santana - Vereadora de Salvador, Lourival Trindade - Secretário da Cultura e Turismo de Cachoeira, Amélia Maraux, representando o Secretário da Educação, Osvaldo Barreto, Iara Sydenstricker - roteirista, Guilherme Maia – professor da UFRB, Jackson Costa e Ricardo Bittencourt – atores.



Os organizadores da Flica disseram que pretendem inaugurar um novo formato para os eventos de literatura, estimulando a leitura a partir de uma maior interação entre escritores e seu público, além de investir na tríade Cultura – Educação – Turismo. Para tanto, contaram com parcerias de órgãos públicos e de grandes empresas.

O Secretário da Cultura e Turismo da cidade de Cachoeira, Lourival Trindade, afirmou que esse evento é um divisor de águas para o município por sua relevância: “Faltava esse evento para consolidar Cachoeira como uma cidade que possui um apelo cultural muito forte”.
Após essa cerimônia, o jornalista Jefferson Beltrão convidou Fernando Morais, Raquel Cozer e Miguel Sanches Neto para comporem a primeira mesa da Festa. Num bate-papo descontraído, os participantes debateram temas, como o panorama atual da produção literária brasileira, o mercado literário, o poder das editoras, a pirataria.





Fernando Morais, conhecido pelos seus livros biográficos, explicou a função da sua literatura: “Desenterrar o defunto e colocá-lo para andar como se estivesse vivo, sem canonizar ou crucificar”. Sobre o alto preço dos livros no Brasil, Morais disse que isso só terá solução com políticas públicas que invistam na Educação Pública de qualidade, como idealizou, no passado, o educador Anísio Teixeira e na implantação de bibliotecas públicas que possuam um acervo atualizado, em todo o país
Miguel Sanches Neto, que além de escritor é também doutor em Letras, declarou que a Literatura no Brasil, dentro da produção cultural, é a menos valorizada, uma vez que existe um descaso com a literatura contemporânea nacional. Para ele, o escritor não precisa se render ao mercado, considerando o conceito de long seller (resultado a longo prazo). 

Já a jornalista especializada em literatura e mercado editorial, Raquel Cozer, informou que a produção literária nacional da atualidade é intensa, mas que é muito raro um autor desconhecido ter seu livro publicado pelas grandes editoras. Raquel declarou também que os livros nacionais que mais vendem são os de não-ficção.

A noite terminou com o show, aberto ao público, da Orkestra Rumpilezz, na Praça Cachoeira, no porto da cidade.



Fotos: Peterson Azevedo
Edição: Geraldo Seara



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

ÁFRICA: REPARAR OU RECOLONIZAR?


Nelma Cristina Silva Barbosa
Professora do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano)

Brasil e África ensaiam atualmente uma aproximação por meio da Ciência e Tecnologia, instrumentos eficazes para a cidadania e autonomia dos povos. Desde o governo Lula essa relação tem o desafio da reparação dos danos causados pelo tráfico de seres humanos. A Educação tornou-se hoje um dos eixos dessa política, especialmente através da cooperação internacional dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia, criados em 2008, e que já são 38 ao todo.

Em nosso estado temos o IFBA (antigo Cefet-Ba) e o IF Baiano (reunião das antigas agrotécnicas federais e das Escolas Médias de Agropecuária da Ceplac – EMARC). Ambos tem sido procurados por países como Angola e Camarões, que estudam a replicação do novo modelo brasileiro de educação profissional. Mas como se dará essa cooperação se o nosso paradigma de desenvolvimento científico é eurorreferenciado e não aceita as contribuições de outras civilizações?

O conhecimento contribui para a formação de uma sociedade justa. Então, por que ainda não conseguimos construir pontes entre os diferentes povos para dissolver as disparidades econômicas e sociais? O racismo, invisibilizado, entranhado em nossas práticas educacionais é uma das causas. Nossos diplomas nos tornam incapazes de lidar com outros modos de vida. Nós nem reconhecermos a inteligência indígena que, por exemplo, manipula há séculos o meio ambiente, a biotecnologia... Esses saberes são excluídos da educação formal.

No passado, africanos trouxeram tecnologias associadas a elementos essenciais à vida colonial como o sabão, a tecelagem, uso da madeira e do couro, técnicas de construção, entre outros. As oficinas de carpintaria, ourivesaria, metalurgia, siderurgia e de olaria tiveram mestres africanos. Culturas agrícolas como as da cana-de-açúcar e do café (uma planta etíope), assim como a mineração não teriam se desenvolvido e sustentado a economia brasileira se não fossem os domínios técnicos dos africanos. Pesca, ouro, café e cana exigiam aplicações tecnológicas sofisticadas que constituíam sistemas complexos de produção. Milho, algodão, inhame o dendê também eram plantas amplamente cultivadas no continente africano. Mas apagamos este dado histórico e nos apropriamos de imagens negativas da África e de seus descendentes.

Reproduzimos na intimidade o que a “ciência” (racista) daquele tempo pregava: a inferioridade de indivíduos não-brancos em todos os sentidos, inclusive no intelectual. A expressiva presença negra e mestiça era a causa do atraso do país, concluía a elite nacional.

Em fins do século XIX e início do XX, uma política de embranquecimento foi implantada pelo governo brasileiro: o estado passou a estimular a vinda e permanência de estrangeiros brancos, em sua maioria analfabetos e sem qualificação profissional. À estes, oportunidades de trabalho remunerado, terra e educação. À população subalternizada (negros e mestiços), restou a marginalização e miserabilidade. Sufocaram-se no trabalho escravo e na mentalidade racista educacional avanços científicos para toda a humanidade. As estatísticas de hoje comprovam o resultado nefasto disto: profundas desigualdades sociais baseadas no racismo.

A ciência ainda hoje tem um poder teológico, que dita verdades, e embora se diga neutra e universal, ela é perceptivelmente branca, heterossexual, eurocêntrica e cristã. Como garantir que essa reaproximação da África com o Brasil será isenta do nosso desejo da recolonização pelo viés do conhecimento?

Os institutos federais serão, em breve, os maiores responsáveis pela Ciência e Tecnologia do Brasil. Porém, em nenhum deles são aplicadas as Leis Federais 10.639/03 e 11.645/08 e o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino da História da África e Cultura Afrobrasileira e Educação das Relações Etnicorraciais. Isto reflete, portanto, que a produção do conhecimento, não é dissociada dos conflitos sociais e raciais. Ela está bem no meio, delineando-se pela disputa de poder entre os grupos humanos; podendo até reproduzir abomináveis práticas de dominação.

Artigo publicado no Jornal A Tarde, Salvador (Bahia), em 29/09/2011
Nelma é apresentadora do programa Dois Dedos de Prosa, da TV Anísio Teixeira

 
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